domingo, 14 de maio de 2023

eternamente fazendo listas

estou começando esse texto no keep, provavelmente meu app mais usado fora redes sociais e whatsapp. enquanto escrevo esse texto, vejo abaixo anotações sobre a faculdade e palestras que preciso pesquisar e outras informações aleatórias, vídeos que preciso assistir, começos de fanfics e uma ou outra ideia de escrita perdida, e até meu horário de trabalho em um momento em que a escala estava incerta.

amo fazer listas, pra absolutamente tudo. já virou meme entre amigos mais próximos que meu primeiro conselho pra alguém passando por qualquer situação/dificuldade é 'faz uma lista', mesmo que eu as faça sem pretensão nenhuma de resolver o que preciso e coloquei ali (inclusive, as informações de uma das listas de coisa da faculdade agora me deu um leve ataque de ansiedade já que esqueci que precisava fazer aquilo lol).

colocar coisas em tópicos me dá um panorama, me ajuda a organizar a cabeça sempre tão cheia de coisa nessa loucura que têm sido meus últimos meses. além do keep, sou viciada no letterboxd e no goodreads - marcando livros e filmes pra depois, sempre querendo consumir uma ou outra coisa, e salvando pra um amanhã hipotético. o tempo passa e nunca consumo tudo que marquei, e muitas vezes passando os olhos não necessariamente me lembro o porquê de ter marcado aquilo, mas se em algum momento quis guardar aquela informação tenho certeza de que ela fez sentido.

mas ao mesmo tempo, ando tão cansada. mentalmente exausta, ainda que o tempo todo criando listas mentais do que gostaria, poderia, faria se ao menos tivesse um pouco mais de tempo, de disposição, de dinheiro. eu não aguento mais os 'é só tentar' 'é só aguentar mais um pouco' 'esquece essas coisas que tão te incomodando e continua'. não consigo tomar uma unidade de decisão sobre nada sozinha, porque o tempo todo pra tudo tem gente me pedindo coisas, tenho que pensar tanto em resolver coisa em casa, na faculdade, no trabalho, que na hora de pensar em coisas pra mim simplesmente não consigo.

ano passado eu havia feito um fio no twitter com os álbuns mais escutados de cada mês, mas em 2023 decidi fazer diferente. ao invés disso, tinha começado a fazer pequenas playlists no spotify das músicas que mais ouvi no mês, e manter esse pequeno registro bem mais pessoal, pois com certeza cada playlist iria me lembrar aquele mês específico, e o meu mood em cada momento pra estar ouvindo aquilo. no mês de abril, não consegui fazer uma playlist.

esse turbilhão de sentimentos e sensações é desconcertante, e talvez botar isso pra fora tenha sido só mais uma tentativa de organizar os tudos nos quais ando pensando. sei que não existe uma solução, e escreveria isso muito provavelmente em um caderno se ao menos estivesse conseguindo manter o hábito de escrever, mas nem isso têm acontecido, o pc tava do lado, foi por aqui mesmo. é tão pouco ânimo que não vejo mais filmes, tenho lido mas num ritmo inconsistente e feito escolhas sem nexo (ainda que, claro, tenha feito listas e mais listas de tbr pra esse ano). até minha recente hiperfixação com bts foi deixada de lado de uns meses pra cá. e é assustador não conseguir me concentrar em nada, especialmente nas coisas que amo fazer.

novamente, estou aqui pra tentar organizar pensamentos, uma lista em parágrafos de desabafo. e aí vamos dia após dia, seguindo. o mínimo tem sido feito - acordo, aproveito o tempo no transporte público pra ler ou estudar, bebo meus dois litros de água do dia, trabalho, faculdade, casa, banho, vitaminas, dormir. a lista do dia a dia tem sido completada, mas cada dia mais sinto que essa específica, assustadoramente, me prende.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

aline adotando um cabrito amanhã

estou obcecada por lamb.



filme islandês dirigido e roteirizado (junto a sjón) por valdimar jóhannsson, é o longa de estreia do diretor. lançado há poucas semanas, o burburinho foi grande por causa do trailer misterioso, mas talvez mais por ser uma produção da queridinha de qualquer um que acompanha o cinema fora dos grandes estúdios atualmente, a A24. faz menos de 24 horas que o assisti e ainda não parei de pensar nele.

há poucos dias também assisti titane, também desse ano, vencedor da palma de ouro em cannes e segundo longa de julia ducournau, diretora do excelente raw.

gostaria de fazer sinopses que não entregassem muito do roteiro para não estragar a experiência. poderia também traçar inúmeras comparações sobre os filmes, pois alguns dos elementos são comuns a eles, mas acho também que seria entregar muita coisa. quem sabe um dia eu faça esse texto. porém esse post aqui é pra nada mais nada menos que desabafar sobre algo que li nas críticas negativas, e como o que foi ruim para outras pessoas talvez tenha sido a coisa que mais gostei nos dois filmes, mas especialmente em lamb.

eu não esqueço a primeira vez que li casa tomada, conto de julio cortázar que é provavelmente o mais direto exemplo do realismo mágico latinoamericano. o conto é simples: dois irmãos já idosos vivem na casa que pertenceu a sua família por gerações, até que estranhos acontecimentos os fazem ir perdendo controle de cômodos, um lado inteiro da casa, toda a casa. existem inúmeras alegorias e possibilidades de interpretações. mas, mesmo quando se tenta uma leitura mais simples da história, a estranheza e inexorabilidade dos acontecimentos fazem com que a gente entenda o motivo de esse ser um conto tão emblemático.

por que estou falando em realismo mágico? porque estamos diante de um filme no qual um bebê híbrido de humano e cordeiro nasce, e é adotada e tratada como filha por um casal. não são feitas perguntas, não se procuram explicações. existem óbvias camadas que vão além disso: isolamento, culpa, maternidade, trauma, luto, identidade e carma podem ser alguns dos temas que não estão na superfície. porém, no fim das contas, é um filme sobre um casal, sua fazenda de caprinos e seu bebê.

"CAPRICORN SUPREMACY" - noomi rapace probably


a surrealidade e estranheza dessa aceitação também é o que dita o ritmo do filme. ele é lento, quieto, atmosférico, mas entrega de forma simples, completa e competente a história que se propõe a contar. os últimos 15 minutos são absurdos, de quebrar o coração de uma forma que eu não estava esperando, e o choque e surpresa daquela conclusão me levaram às lágrimas. 

e aí chegamos ao que vi em boa parte das críticas negativas: a falta de explicação, de sentido, ou o filme se levar a sério demais. sinto que existe uma dificuldade nessa parcela das pessoas em aceitar que lamb não é um horror sobrenatural, cheio de metáforas, ou aceitar um final no qual não existem respostas para todas as questões. mas pra mim é mais do que óbvio que essa não é nem de longe a intenção do filme.

não sei se a expectativa criada pelo nome do estúdio ou a falta de familiaridade com temas recorrentes desse realismo mágico é o que acabou decepcionando as pessoas. pra mim, é fácil aceitar que filmes nos quais "nada acontece" não sejam pra todo mundo. nesse sentido, posso comparar lamb também a the green knight (e a A24 de novo por aqui): são estudos, filmes introspectivos, nos quais não apenas o ser humano como também o ambiente, a passagem do tempo e a natureza são usados como personagens.

resta ao espectador aceitar a experiência que lhe foi proposta, sem querer procurar muito nas entrelinhas os porquês. lamb também é tecnicamente perfeito, com uma fotografia incrivelmente bela, direção competentíssima e performances impecáveis. talvez esse seja meu lançamento favorito de 2021, a dois meses do fim do ano e em uma época super estranha pro mundo e também pro cinema. talvez não faça mal no meio desse furacão saber que um bebê cabrito foi uma das coisas mais reconfortantes que esse ano me proporcionou.

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Para Toda A Eternidade (& Will My Cat Eat My Eyeballs?) , Caitlin Doughty

Semana passada escutei ao audiobook de Will My Cat Eat My Eyeballs? (que será publicado aqui pela Darkside Books com o título de Verdades do Além-Túmulo), e nessa semana finalizei a leitura de Para Toda A Eternidade, ambos da Caitlin Doughty. Todos os livros foram traduzidos pela Regiane Winarski.

Eu sempre me considerei uma pessoa extremamente consciente no que diz respeito a morte e à nossa mortalidade. Na minha casa conversamos sobre o assunto tranquilamente, tenho um plano de morte estabelecido, minha família sabe dos meus desejos para quando minha hora chegar (porque sim, ela vai, como a sua também). Mas conhecer o trabalho da Caitlin e a forma natural com a qual ela e outros profissionais lidam com isso me abriu os olhos pra uma série de novas possibilidades.

Para Toda A Eternidade é um livro é sobre diferentes culturas e pessoas, e como são os rituais para os momentos de luto de acordo com a história dos povos desses países que visitamos com a autora. O que pode parecer morbidez nada mais é do que um momento natural, que foi cada vez mais esterilizado e, porque não, desumanizado de acordo com o "avanço" da sociedade, e da transformação do fim da vida em um negócio cada vez menos pessoal e desnecessariamente mais lucrativo.



A Caitlin tem um jeito muito único de contar tanto sobre questões técnicas e científicas quanto pequenas anedotas sobre as próprias viagens, e também os personagens que ela encontrou durante o processo de escrita e pesquisa para o desenvolvimento desse livro. Já acompanhava o canal dela no youtube, mas desde que li o primeiro lançamento dela, o Confissões do Crematório (Darkside Books, 2016), minha admiração apenas aumentou, além do meu conhecimento sobre tantas questões sobre as quais evitamos, mas precisamos falar, tanto para nossa própria aceitação quanto a de nossos entes queridos perante essa inevitabilidade que é a morte e o processo de luto.

Will My Cat Eat My Eyeballs? é um livro de respostas a questões feitas por crianças e adolescentes a ela, sobre questões que vão de pedir para ela descrever o cheiro de um corpo em decomposição à questão do título (a resposta é basicamente: se você morrer, seu gato provavelmente não vai ter quem o alimente, então, sim, talvez ele coma seus olhos - mas vai começar pelo nariz e pelos lábios). Esse é o livro que menos gostei dos que a Caitlin escreveu até agora (mas mesmo assim gostei bastante!) mas, basicamente, porque muitas das respostas que ela deu são coisas que já eram do meu conhecimento, sendo pelo próprio já citado canal dela, ou também pelo que ela fala nos outros dois livros. Isso, infelizmente, deixou com que algumas coisas soassem repetidas pra mim, mas a experiência de escutar  ao audiobook foi ótima por ser narrado pela própria autora, assim como todos os outros também são.

 


Ano passado, no lançamento de Para Toda A Eternidade, a Caitlin veio pro Brasil e tive a oportunidade de ouvir sobre todas essas coisas diretamente dela, bem como conversar um tantinho e ter meus livros autografados. Ela é uma das pessoas que mais admiro nesse mundo, e foi uma oportunidade incrível conhecê-la

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* Em outras notícias, estou fazendo um monte de post temáticos pro Halloween lá no meu instagram, e ando bem empolgada com isso. Me segue por lá!

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segunda-feira, 27 de julho de 2020

Carvão Animal, Ana Paula Maia

Pra mim é sempre muito difícil falar de coisas que mexem comigo profundamente, e posso afirmar que essa é a reação que tudo o que já li da Ana Paula Maia me causa.

Carvão Animal (Record, 2011) é o terceiro volume n'A Saga dos Brutos, precedido por duas novelas que estão no livro Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos (Record, 2009). Esse primeiro reli há alguns meses, e reencontrar o texto da Ana Paula nunca deixa de ter a mesma sensação que um chute que nos tira o ar. Como já é esperado de uma série de livros, A Saga dos Brutos nos trás a mesma temática, ainda que trabalhada de formas distintas: homens que têm trabalhos que ninguém quer ter, e no meio disso ver coisas que ninguém quer ver e fazer coisas que ninguém quer fazer.


Assim como o já conhecido e recorrente personagem Edgar Wilson (com quem também acabamos nos encontrando nessa história), em Carvão Animal temos os irmãos Ronivon e Erasmo Wagner. Ronivon é funcionário de um crematório, e Erasmo Wagner é bombeiro. Ambos estão o tempo todo em contato com fogo e com a destruição que ele pode causar, às coisas e às pessoas - ao ponto de torná-las o carvão animal do título. São trabalhos pesados, mas essenciais e necessários, e muitas vezes essas pessoas invisíveis são quem e o que mantêm a ordem e o funcionamento da sociedade. Acho que isso é muito bem explorado especialmente na novela que acompanha Entre Rinhas..., chamada O Trabalho Sujo dos Outros. As situações extremas endurecem esses homens, e eles usam isso também para se anestesiar dos próprios traumas e tragédias pessoais.

Porque, além de tudo, Carvão Animal lida muito com a morte. Mortes naturais, em acidentes, assassinatos, para onde vão esses mortos, e como também os vivos têm suas responsabilidades e afazeres nessa hora. É tudo um grande ciclo, e as coisas belas têm tanto valor quanto as coisas que as pessoas podem considerar feias e desagradáveis. Por um problema de saúde congênito, Erasmo Wagner se coloca em situações de risco que muitos de seus colegas de trabalho não se colocariam, mas com o tempo percebemos que a raiz desse desprendimento é algo muito mais profundo que a falta de sentir dor física. Ronivon aceita um trabalho extremo para ajudar a salvar o crematório em que trabalha, por mais que isso desafie sua sanidade e suas crenças.

É tudo dolorido, cru, bruto, quase cinematográfico, ainda que sucinto em palavras, de uma forma que Ana Paula Maia trabalha com uma maestria que dificilmente encontramos em outras obras e outros autores. Foi mais um livro da autora para consolidar a admiração que tenho pelo trabalho dela, e mais uma leitura excelente em um ano que tenho tido sorte com minhas escolhas.

* Esse livro foi uma das leituras da Pretatona, na categoria Nacional.

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shelf chaos 🞄 “for someone who loved words as much as I did, it was amazing how often they failed me.”